quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Divã do Comercial da Vida Real: Igrejas

Já posso falar?

Se você quiser…

Bom, é por isso que estamos aqui, né?

Certamente.

Então tá. Ela me deixou.

Sim?

É isso, ela me deixou.

Sim, e…?

Ah, é difícil falar disso. Eu sou fotógrafo, o senhor sabe, né? Então… eu quis fazer uma surpresa.

Hum, surpresas, elas dão um tempero diferente no cotidiano.

É, mas nessa eu me dei mal.

Por que? Ela não gosta de surpresas?

Achei que gostava. O senhor sabe que iríamos casar né? Então… aí ela não sabia em qual igreja seria a cerimônia, aí, eu pensei: “por que não fotografar todas as que conhecemos (ou não conhecemos) e deixar que ela escolha?”. E fui por o plano em ação.

Puxa, que ideia fantástica. E como foi?

Então… fotografei todas as igrejas que eu a imaginava entrando, de branco, linda, a mulher que estaria comigo pra sempre. Fiz foto por foto, imprimi todas em gráfica rápida. O senhor sabe quando custa cada impressão colorida em gráfica rápida?

Não é um serviço que eu use rotineiramente, não sei.

Então… custa caro! Mas fui lá e imprimi. E fiz um mural pra ela escolher a igreja que mais gostasse.

E ela gostou?

Não sei, não deu tempo. Fiz o mural e encontrei essa carta na mesa da cozinha. Pode ler, eu não consigo ver isso de novo.

“Querido, o que aconteceu com você?

Faz uma semana que não o vejo. Tento ligar no seu celular e só cai na caixa postal. Uma única vez que atendeu, me deu uma explicação tão sem pé nem cabeça que no mínimo você acha que eu sou boba, né? Eu saí com umas amigas pra desabafar e elas só comprovaram o que eu já desconfiava:  você tem outra. Vocês dois saíram em férias e achou que ia ficar por isso mesmo?

Estou indo embora e levei o blue-ray que ganhamos da minha tia. A TV Led 3D também. Pode ficar com o conjuntinho plástico que a sua mãe deu e não esqueça de ir buscar o gato no hotel de animais, afinal, não podia levá-lo, pois estou indo morar provisoriamente no apartamento do Maurão, o meu ex-personal trainner. O prego batido no meio do seu MacBook é pra lembrar como você me machucou. E só não quebrei a sua máquina nova Cannon, porque não encontrei. No mínino levou pra fotografar a biscate que está com você. Ah, o disco do Charles Asnavour, com aquela música ridícula, “She”, que você dizia que era nossa, deixei pro gato brincar de afiar as unhas”.

Até nunca mais,

Sua ex-noiva.

Não entendeu? Veja aqui…

originalmente postado em http://jotapropaganda.com.br